Sequência Metodológica da Práxis Pedagógica

Conheça como a metodologia é aplicada na idealização, criação, desenvolvimento e execução de cursos, projetos educativos e trabalhos socioeducativos.

A Práxis Pedagógica concebe e pratica a educação como processo social que se realiza através da relação entre ensino, aprendizagem, ação, reflexão e transformação. Enquanto ação educativa repleta de intencionalidade, a metodologia é praticada por sujeitos sociais que ensinam e aprendem de forma interativa, criativa, crítica e emancipadora.

Veja a seguir os cinco momentos que constituem a sequência metodológica através da qual o trabalho pedagógico é realizado.

Momento 1 – A prática social como ponto de partida

Consiste em promover a identificação do conteúdo ou do problema a ser trabalhado pedagogicamente como algo integrado a prática social, visando sensibilizar e mobilizar para uma aprendizagem crítica e significativa.

De forma dialógica, instigante e desafiadora, será sistematizado com os sujeitos envolvidos no trabalho educativo o “aqui e agora” perceptivo, histórico e social que possuem do conteúdo temático ou do problema a ser trabalhado.

O ponto de partida é o conhecimento já existente e a identidade cultural que os sujeitos-estudantes trazem consigo e em si. Trata-se do conhecimento imediato da vivência empírica, permeado por sentimentos, emoções e espontaneidades. Conhecimento que configura certa visão mediada de totalidade e de valores forjados nos contextos das relações sociais vivenciadas.

Essa vivência social e a identidade cultural dos sujeitos envolvidos, formam o contexto inicial do trabalho na perspectiva da transformação. Isso significa a prática social como ponto de partida, de tal forma que os estudantes ou grupo envolvido se assumam como sujeitos ativos do processo pedagógico.

Momento 2 – Problematização

Para a metodologia, problematizar significa procurar compreender criticamente a realidade a partir das suas contradições e de forma inter-relacional. Processo fundamental para o desenvolvimento da consciência crítica e propositiva. Nesse sentido a problematização é o elemento-chave na transição entre a prática e a teoria, entre a aparência e a essência da realidade concreta, entre o fazer cotidiano e a cultura elaborada.

Partindo do conhecimento existente, busca-se caracterizar a natureza histórica e social do conteúdo temático a ser estudado ou do problema a ser enfrentado. Identificar a natureza histórica se faz necessário para superar a visão de naturalização alienada da realidade, ou seja, de que o tudo social envolve um processo de construção e não um desenvolvimento natural. Quanto a natureza social, significa compreender que esse processo de construção ocorre no interior das relações sociais, portanto, carregado de interesses, ideologia e determinações socioculturais.

Tais caracterizações, histórica e social, são pedagogicamente necessárias para iniciar o processo de superação da visão senso-comum, que ao naturalizar a realidade sócio-histórica, impõe uma aparência neutra, estática e imutável do conhecimento.

Nesse processo, e de forma interativa entre os sujeitos envolvidos, o conteúdo temático em foco será objetivado em questões problematizadoras. A finalidade é demonstrar que a realidade sempre é formada por múltiplos aspectos interligados. Daí que os conteúdos ou o problema em foco devem ser percebidos e analisados em suas diversas dimensões, refletindo-se sobre a pertinência e contradições que essas diversas dimensões estabelecem com a prática social.

Assim, para efeito e uso como recurso didático-pedagógico, as problematizações serão classificadas nas diversas dimensões que o tema ou o problema comporta, tais como: científica, técnica, conceitual, cultural, social, histórica, econômica, política, estética, filosófica, dentre outras.

Momento 3 – Instrumentalização

Tendo por base a prática social como contexto e as questões problematizadoras formuladas, a instrumentalização consiste no intercâmbio dos sujeitos-estudantes com o objeto sistematizado do conhecimento. A finalidade é que a aquisição de conhecimentos seja transformada em instrumento de desenvolvimento pessoal e também como meio para compreensão socio-histórica da prática social.

Esse intercâmbio mediado com o conhecimento sistematizado envolve a realização de dois procedimentos pedagógicos que estruturam a relação ensino-aprendizagem: (a) sistematização e formatação pedagógica dos conhecimentos que são necessários aprender e que habilidades e competências específicas devem ser desenvolvidas; (b) estabelecer ações didático-pedagógicas e definir os recursos necessários e procedimentos práticos para organizar e promover a aprendizagem significativa.

A instrumentalização quando aplicada especificamente em trabalhos socioeducativos, será norteada pela compreensão de que se a problemática foi socialmente construída, então pode ser socialmente transformada. Sendo que para isso é necessário construir de forma coletiva a identificação dos interesses, necessidades e possibilidades postas pela problemática, capacitando-se com conhecimentos específicos e socioculturais para planejar e promover as ações transformadoras.

Momento 4 – Nova compreensão elaborada

Como resultante da aprendizagem realizada através da problematização e instrumentalização, deve ocorrer um salto de qualidade do desenvolvimento cognitivo e sociocultural.

É o momento em que os sujeitos-estudantes são estimulados a expressarem um grau intelectual mais elevado de compreensão conceitual elaborada do conteúdo ou da problemática trabalhada. Esse desenvolvimento é a base para que a aprendizagem significativa se realize. O que ocorre na medida em que essa nova atividade intelectual vai sendo objetivada na prática social, agora como nova síntese concreta que articula o cotidiano com o científico, a teoria com a prática.

Nesse momento a avaliação funciona como manifestação do quanto o sujeito-estudante se aproximou dos objetivos de aprendizagem ou das possíveis soluções, ainda que teóricas, frente aos problemas e questões levantadas na problematização.

Especificamente no trabalho socioeducativo, envolvendo problemáticas postas pela prática social ou formação temática, o salto de qualidade do desenvolvimento deve também se expressar como processo de transformação da aquisição individual de conhecimentos em consciência coletiva. Ou seja, a necessidade da ação coletiva deve ser subjetivada por cada indivíduo como valor e como forma transformadora da própria prática social. É a ação socioeducativa propiciando a construção da consciência coletiva, que deve mediar às relações de interesses e diferenças entre a individualidade e a coletividade.

Momento 5 – A prática social como ponto de chegada

Para que a práxis pedagógica se complete, concretizando a aprendizagem dos conteúdos e das temáticas envolvidas, é necessário que os sujeitos-estudantes promovam a ação real dos conhecimentos adquiridos e das habilidades e competências desenvolvidas. Trata-se da prática social como ponto de chegada, agora mediada por uma nova compreensão relacional, mais ampla e crítica da realidade e suas dimensões.

Nesse momento da metodologia, a ação real do sujeito-estudante consiste na realização interativa de atividades pedagógicas, através das quais é estimulado e desafiado a manifestar uma nova maneira crítica de pensar, de entender, de julgar os fatos e as ideias, de ser capaz de novas atitudes e ações articuladas com a prática social.

Assim, tais atividades busca explicitar as intenções do sujeito-estudante quanto ao uso dos conteúdos aprendidos em sua vida cotidiana e como pretende traduzi-los em novas posturas e atitudes práticas nas relações sociais em que está inserido.

Especificamente no trabalho socioeducativo, envolvendo problemáticas específicas ou formação temática, a prática social como ponto de chegada significa os sujeitos envolvidos, além do desenvolvimento pessoal, também objetivarem os conhecimentos em ação intencional organizada. De forma que ocorra o desenvolvimento individual articulado com a construção da compreensão e ação coletiva como práxis transformadora.

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