Essa teoria concebe que as origens da vida consciente e do pensamento abstrato, encontram-se na interação do ser orgânico com as condições de realização da vida social.
Ao longo do desenvolvimento da espécie humana, a origem ontológica das mudanças que ocorrem no ser humano situa-se na Sociedade, na Cultura e na sua História. Nesse processo de desenvolvimento, a teoria histórico-cultural considera que o indivíduo não é apenas um ser ativo diante da realidade. É sujeito de interações, uma vez que constitui conhecimentos e se constitui a partir de relações intra e interpessoais.
Assim, é na troca interativa com outros sujeitos e consigo próprio que se processam internalizações do mundo objetivo, o que permite a constituição de conhecimentos e da própria consciência.
A seguir, exposição de dois princípios básicos da teoria histórico-cultural, que são considerados como pressupostos estruturantes para a metodologia Práxis Pedagógica.
1 – O processo de humanização do ser humano:
A teoria afirma que as características tipicamente humanas não estão presentes desde o nascimento do indivíduo, nem são meros resultados das pressões do meio externo. Elas resultam da interação dialética do ser humano com o seu meio sociocultural. Quer dizer, o ser humano ao transformar o seu meio para atender suas necessidades básicas, transforma a si mesmo.
É nesse processo que
ocorre a transmutação entre os aspectos biológicos, base natural da vida
humana, com os aspectos sociais do indivíduo, resultando no desenvolvimento das
funções psíquicas tipicamente humanas.
Demarcando, assim, a passagem do ser humano como espécie humana — resultado do
desenvolvimento da espécie homo sapiens como ser biológico — para a condição de
gênero humano — desenvolvimento do ser humano como ser histórico-social.
2 – O pressuposto de que toda atividade humana é mediada:
A teoria parte do princípio que todas as relações do ser humano com o mundo não são relações direta, são sempre relações mediadas por “ferramentas auxiliares” construídas pela própria atividade humana.
Essas ferramentas se constituem nas técnicas e instrumentos e nos sistemas de signos. Enquanto as técnicas e instrumentos regulam as ações sobre os objetos, os signos regulam as ações sobre o psiquismo humano. Tais ferramentas relacionam-se dialeticamente e vão mediar tanto às relações dos seres humanos com a natureza, como as relações entre os próprios seres humanos.
Esse processo de mediação é fundamental, justamente porque é através dele que as funções psicológicas superiores, especificamente humanas, se desenvolvem.
A linguagem é considerada como o principal signo mediador para o desenvolvimento da consciência e do pensamento humano, já que ela carrega em si os conceitos generalizados e elaborados pela cultura humana.
Com base nesses dois pressupostos é possível conceber que o ser humano é uma espécie que se faz humano. Ou seja, a natureza humana é produzida sobre a natureza biológica, o que ocorre através da internalização e singularização da humanidade que é socialmente construída, historicamente acumulada e culturalmente organizada nas relações sociais.
E como esse processo de se fazer humano é sempre mediado, principalmente pela linguagem, é possível estabelecer a importância da educação e do trabalho socioeducativo como práxis social formadora, criativa, crítica e transformadora.